O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, o se declarou nesta segunda-feira (5) vencedor das eleições presidenciais que o país realizou no domingo (4). Com 31% das urnas apuradas, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral de El Salvador, o partido de Bukele, tinha 83% dos votos.
Bukele, um político de 42 anos que colecionou polêmicas em seu primeiro mandato com políticas como estado de exceção, um programa controverso de combate ao crime organizado e demissões por redes sociais, se declarou reeleito.
Embora a reeleição não fosse permitida em El Salvador, o presidente conseguiu concorrer novamente a partir de uma manobra judicial que driblou o Legislativo (leia mais abaixo).
Em uma publicação em suas redes sociais nesta segunda, Bukele disse as urnas lhe garantiriam 58 das 60 cadeiras da Assembleia Nacional. Mais tarde, em um discurso no Palácio Nacional, ele afirmou que o país tinha feito história.
“Os salvadorenhos deram o exemplo ao mundo inteiro de que qualquer problema pode ser resolvido se houver vontade de fazê-lo”, disse ele.
A Frente Farabundo Martí, de esquerda, estava em segundo lugar, com 7% dos votos.
Bukele está no poder desde 2019. Com 90% de aprovação, ele ficou conhecido pelas decisões polêmicas em relação à segurança pública e medidas controversas consideras autoritárias.
Desde 2022, o país está em estado de exceção. Mais de 70 mil pessoas foram presas sob suspeita de pertencerem a gangues. Além disso, Bukele uma prisão de segurança máxima onde mais de 100 detentos são mantidos nas suas celas sem colchões.
No cargo, o atual mandatário tem atacado partidos opositores, dizendo que são corruptos. Ele também foi acusado de adotar medidas antidemocráticas para concentrar o poder nas próprias mãos.
Reeleição
Para conseguir se reeleger, Bukele fez uma manobra que driblou o Legislativo: ele renunciou temporariamente ao cargo de presidente em novembro do ano passado, e, sem autorização do Congresso, conseguiu que a Justiça aprovasse sua reeleição nomeando juízes para a Suprema Corte (leia mais abaixo).
Ele só foi legalmente autorizado a montar uma campanha de reeleição depois que os juízes da Suprema Corte declararam que o direito humano de Bukele de concorrer superava a proibição constitucional de servir mandatos consecutivos como presidente.
Os legisladores do Partido Novas Ideias de Bukele, que domina o atual Congresso, nomearam os juízes que determinaram que ele poderia concorrer.
O 1º mandato
Em junho de 2019, logo que assumiu o poder, Bukele demitiu cerca de 400 funcionários públicos pelo Twitter, dizendo que eram empregados por nepotismo ou tinham ligações com a esquerda.
Uma semana depois, ele afirmou que era o presidente mais “cool” (descolado) do mundo.
Em 2020, enquanto o Parlamento discutia um pacote de US$ 109 milhões para combater o crime, ele enviou policiais para o prédio.
Além disso, Bukele se sentou na cadeira do presidente da Câmara e disse “agora acho que está claro quem está em controle”. Quando ele saiu do edifício, havia uma multidão para apoiá-lo.
Houve críticas internacionais quase imediatas. A revista “The Economist”, uma das mais importantes do mundo, disse que ele queria se tornar o primeiro ditador millennial da América Latina.
Em sua gestão, Bukele tomou diversas decisões controversas para um Estado democrático. Entre outras medidas, ele:
- Suspendeu as liberdades civis para combater gangues.
- Passou a prender suspeitos em massa por serem suspeitos de pertencerem a gangues.
- Apoiou as medidas da assembleia para demitir juízes e o procurador-geral.
- Impôs o bitcoin como uma moeda legal.
Os críticos afirmam que, no longo prazo, essas políticas não são eficazes. Um deles é o analista político mexicano Carlos Perez, que afirma que o encarceramento em massa, por exemplo, é "tão perigoso quanto atrativo para milhões".
"Um modelo baseado em encarceramento em massa simplesmente não é sustentável", disse.
Quem é Bukele
Nayib Bukele é filho de um empresário de origem palestina. Antes de se lançar na politica, ele trabalhou em uma agência publicitária da família.
Na agência, ele ficou responsável pela conta de um partido político de esquerda que, originalmente, era uma guerrilha: a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que na época era o partido no poder.
Bukele foi de marketeiro a político da FMLN: ele se candidatou para prefeito de uma cidade pequena, Nuevo Cuscatlan, e venceu.
Na prefeitura de Nuevo Cuscatlan, ele conseguiu melhorar os índices de homicídio e doava o salário para estudantes bolsistas. Nessa época, Bukele começou a usar as redes sociais para se promover.
Em 2015, ele foi eleito prefeito de San Salvador, a capital do país. Ele ficou rapidamente famoso por ter revitalizado o centro histórico e construído uma biblioteca.
Bukele era uma estrela em ascensão na política de El Salvador, mas mesmo assim, em 2017, a FMLN e ele se desentenderam. O partido afirmou que Bukele violou o estatuto da FMLN e o expulsou.
Ele, então, mudou de lado e foi para um partido de direita. Em sua campanha à presidência, afirmou que iria resolver os problemas de violência de El Salvador.